["Non... Rien de rien.../Non... Je ne regrette rien/C'est payé,/balayé, oublié,/Je m'en fous du passé!"]

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Hoje

Depois de flor crescida
Volto às ramas de minha terra
Do alto dum cajueiro
Tenho sobre as mãos duas montanhas de rocha
Que de tão longe o horizonte
Mais perto os sentidos ficam
E pulo para meninice tão rápida
 Quanto uma lavandeira caçando minhocas

Escuto suave nos arquivos de minha memória
A voz sempre roca de minha Mãe
 — Niiiiiiiina, Niiiiiiina...
Acompanhada do ritmo singular
Entre uma batida e outra de martelo na chapa
E o som de fogo do maçarico de meu Pai
Por trabalhar debaixo do sol como soldador 
Sem grandes preocupações com o porvir

O chão riscado em duas formas retangulares
Era um enorme barco que se tinha pra desbravar
Os peixes eram folhas secas da mangueira
Que caiam fora dos limites do barco
Onde bravamente com uma lança
 A folha furando ao meio tinha a pesca
De surpresa os peixes depois de assados
Eram as próprias mangas em talhadas pra chupar

Um pneu deitado rapidinho era levado
A pensar numa nave espacial
Dentro: eu mesma
Como única tripulante
Por alguns minutos no sistema solar
Via os outros plantas nas casas vizinhas
E em terras “estranhas” corria atrás
Das minhas galinhas alienígenas

Lá em casa a brincadeira começava antes
Da brincadeira começar...
Era lá no comecinho com a confecção
Dos meus próprios carrinhos
Que era mais gostoso brincar
Simplesmente com uma garrafa de refrigerante cheia de terra
Um arame de solda e barbante pra sair puxando
Daí saia carro, carreta, charrete, o que desse pra ir imaginando  


 Foi assim dia após dia
As árvores eram grandes amigos em festas
Se de tronco deitado
Era cavalo brabo que depois se fazia manso
Os vidros de carros da oficina velha
Eram diamantes preciosos
Que até briga séria dava
Se alguém pensasse em me tomar

Já hoje...


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