["Non... Rien de rien.../Non... Je ne regrette rien/C'est payé,/balayé, oublié,/Je m'en fous du passé!"]

domingo, 24 de abril de 2011

Pintura

Sinto-me criado por olhos fieis
Com um lado a não pulsar
Sendo vivo apenas nas tuas mãos
A me pintar
Delírio de mente inocente
Revelas o que nem de longe sou
Pudera guardar tal imagem que aí estou
Mas, perplexo de imunda realidade
Não guardas o retrato de outrora
Nem me concedes o mesmo olhar
Quando me fitavas sossegado...
E de inquieta surpresa de mirar-te
Me pego sedento em luxúria da mesma
Nuca que um dia pude tê-la
Recordo-me de um passado recente
Inclino ao canto a alma
Dirijo a mão à pena
E apenas escrevo...
O exílio da palavra cansada
Discorre de um som infinito
As rimas e frases entrelaçadas
Destroem os pensamentos
O quadro dos ideais reflete mágoas que passam
A lembrança de um apito na vertical de qualquer parada
O privilégio de poucos errantes
Escondem-se atrás dos rostos ainda mais errantes das praças
Sutil calda perdida           
Tua conquista inata
Deflagras o coração que guardas
Na suposta criação chamada AMOR.

sábado, 23 de abril de 2011

Conversa Direta

- o francesismo dos lábios de tal moça que seguia nítida e convincente deixava em frangalhos o corpo. Que corpo? O tormento ou melhor dizendo o pertubado era de não saber de nada. Mas, era tão dourado o seu corpo que já não queria saber coisa alguma. É como se toda a rua enchesse de tamanha graça quando ela passa. Pois bem, hei de ser franco com você agora, não queiras querer tal ousadia de pobre mortal, ouça-me como quem fala e quem sabe terás as franças das árvores tão veneradas. Talvez um forasteiro ou um explorador pudessem achar, mas não! Não creio em sentimentos profundos, nem nos mais rasos... apenas não creio. Lidamos todos os dias com Deus querendo dar sentido ao mundo, então em quem devo acreditar?  É como transitar dentro de nossas próprias cascas de tronco e não ter nenhum controle sobre elas, mas estar tão feliz quanto a estampa de um vestido de chita. Então... voltando aquela moça mesmo de quem falava, passamos bom tempo fazendo de nossas vidas um belo carnaval. Mas, como disse passamos! E foi só. Como se fosse um fundo falso, antes mesmo de cair à noite já nem me lembrava mais de sua graça; e ao lembrar de que nada lembrava tristeza não tinha, pelo contrário, tomava-me em gargalhadas. Podes achar que estou louco por dizer-te tantas coisas assim de uma só vez, com isso penso que tua sanidade trata-se da maior loucura já vista em todo tempo... já parou para observar o cheiro que alguns momentos têm?  Pois é! O aroma dos lugares, das pessoas faz reaparecer um acontecimento às vezes até bem antes mesmo dele se ter de fato; como um pane nos horários que prevê o acontecimento, no qual o cuidado com os dias se dá pelo mesmo que fugir as regras  do inventado “normal”. E a moralidade então... até hoje ninguém conseguiu definir com precisão , mas também, para que definições? Há bichos interessantes meu caro, pois veja, que passam a existência inteira a procura de coisas irrelevantes, inúteis, pelo bem da palavra como você, por exemplo. Vejas que ironia não, o homem: prisioneiro de suas próprias invenções... falando nisso (nas coisas idiotas) nunca mais falamos sobre aquele assunto, não é mesmo? Ora, meu querido, não me canse com seus descasos tolos, bem sabes do que falo... é uma pena não conseguir  ser nem mais ridículo que já eis. De fato isso me entristece, pois vês, que eis mais previsível quanto o cair do sol, já imaginava esse tipo de reação tua. Infelizmente ou felizmente, não sei, mas nem admiração hei de sentir por ti um dia, e olhe que até os ratos da mais baixa classe a merecem de mim, ainda que de assombro e nojo, ou menos causam algum efeito. Hoje a tua imagem não passa de um cartum, no qual pessoa nenhuma mais quer ver... pois bem, falo eu, acompanhe meu raciocínio sobre o amor (sobre aí no sentido de por cima) o que seria este nome? Qual o sentido de se ter? Qual a medida correta para poder analisá-lo? Vamos lá meu amigo, não consegues responder a perguntas tão tolas? Enfim... direi algumas palavras com sabor um tanto quanto amargo agora para que bebas da tua própria realidade.  Não passamos de uma gota no oceano que ao ser retirada de qualquer mar falta nenhuma fará, talvez tenha sido isso o grande truque dessa raça, a insignificância dos seres desta terra tenha se perpetuado na sobrevivência deles... acho que é chegada ao final nossa conversa, vejo que me resta mais nada de bom para te oferecer e espero que tenha ficado claro tudo desde o começo.
               Ao terminar de dizer suas últimas palavras o jovem, ainda sentado na mesma cadeira de quando começou a falar no centro do seu apartamento vazio, para e olha fixamente o espelho que sempre esteve em sua frente, sua boca rosada e emudecida apenas tremia, como se não houvesse nada mais a dizer de verdade, apenas fazer. Respirou profundamente parecendo querer puxar todo fôlego de uma vida , gesticulou com a cabeça o sinal de SIM por duas ou três vezes, levantou vagarosamente disperso e caminhou até o parapeito do apartamento, abriu os braços e se deliciou com um vôo do vigésimo andar.




quarta-feira, 20 de abril de 2011



Cruel fuga desmedida
Amplia a viga esquínica
Na vil manifestação das cores
O relato doente, inesperado do que é
Para lá do eu...
A insistência do ver imerge o navio de esboço
Quiçá navegar