["Non... Rien de rien.../Non... Je ne regrette rien/C'est payé,/balayé, oublié,/Je m'en fous du passé!"]

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Coração disritmado

eu quero é que
a minha palavra seja fria
fina ponte que afunila
afinando feito ponta de punhal
perfurando pra tocar sem ferir
o que há de mais gritante em ti.


Com todo respeito Sr. Vinícius,

Qual ser não romperia com o esquecer?
Sopro aos pés dos ouvidos um som agudo
Monólogo de Orfeu e suas horas.
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.”

Qual ser não fruiria do esplendor?
De ver, e estar doente dos olhos  
As metamorfoses do querer
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto

Qual ser não se agarraria a grandeza do sonho?
Perante o encolhimento da realidade
 E o admirável impossível
“Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!”

Qual ser não se deitaria a espera?
Diante proclame tão alto em dizer
Que outro ser por ti, junto a lua, há de eternizar
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia



sábado, 28 de novembro de 2015

Objeto em [Pre]posição

O que eu tenho são surtos de ti 
entre...
aparições que assaltam minha’tenção
sobre...
gritantes vertigens, eu diria, talvez
ante...
um fantasma caquético cuja fama: surrupia  
até....
olhares cabulosos que atormentam a Paz
em...
ponto e linha, fazendo-se ponte as palavras minhas
contra...
desatinada e invariável condição.



quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Amor abortado

Religiosamente te trago, junto a mim
Não porque queira
Mas de natureza inevitável
Buscando explicações onde não há o explicável
Tragando o orgulho mergulhado
Por medíocres situações possíveis
De encontros não marcados

Em triângulos por ângulos separados
Eu aí e você aqui
Pontilhando o que é de resto
Acúmulos nostálgicos aos ventos
Só sei que vou seguir
Engulo a seco cada dobra do tempo
Enquanto disfarço o que é de dentro
Toda força do sentir...







Anistia

Dou a mim a anistia
No dobro do peso
Em quantia e mais valia
Pra minha’ alma descansar

Contudo, a espera foi morte
De esperança em muitas guerras
Partindo, estilhaço, notoriamente quebrado
Onde ninguém ousa andar nesta terra

O que eu queria era te dar
Cada músculo do meu corpo em gozo
E sobre o teu rosto eternizar
Cada canto em contorno

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Soberbar

É soberbo querer deixar
Para lá
O que era dantes
Além mar...
Além do amar...
Por caprichos
Que fazem da memória
Sua tirania


Canção de amor sem fim

E quase que,
Só te respiro
Poupando ar

Enquanto vejo
Estremeço
sensível em pulsar

Silencioso ver...

E quem saberá
Onde foi parar?
Aquilo que nem mesmo sei dizer
Nem tampouco chamar. 



Cores de outono

Outonos são outonos, percorrendo estações
Aqui ou no hemisfério norte ele é sempre o mesmo
Abundante em folhagens velhas distribuídas minuciosamente
Sobre o caminho que mais parece uma tela de pintor artista
Pela delicadeza de transparecer cores de múltipla cor
Amarelo, laranja, vermelho e até marrom...

Pode-se dizer outonear a transgressão da natureza
Que acontece quando as árvores perdem suas vestes para o chão
Nuas e revestidas de tantas outras novas e mais novas flores
Repetindo homeopaticamente a beleza dos dias
É o outono acontecendo querendo ser como de costume outono
Com pitadas de melancolia ao frio bondoso do entardecer...

Mas os outonos não são iguais
Em cada dia há um outono diferente dos outros outonos
Que este outono se faz lembrar.














Dura óssea

Não há perdão, nem haveria de ter
Incrustado no pensamento permissível
Da cópula da culpa. Cujo nome, retrato infame
Ironia de bem dizer... é o  Erro!
Mentira...
Não há perdão para aqueles que não sabem amar
Ocupados por demais com verdades, metidas à intrometidas
Disfarçando assim... qualquer mágoa patética.
Não há abstrato, não há concreto
Não há lamúria, não há choro, nem coisas desse tipo
Não há o que dizer
Não há nada pra ser criado ou crescer sobre as pedras,

torres de marfim...
Vertentes parece a de sempre, pesada.
Com suas caldas longas
cobrindo de serrado
 os caminhos que se encerram.

De noite lá/aqui!
Os lumes é que vagam
sopesando sobre os olhos dos alpendres
As janelas desconfiadas.

E... Quando só penso...

Vem dizer voz baixinha: A CIDADE DORME!
Sonolenta e obesa de si mesma
Ela nos espera... Ela se esfrega
Num mar de preguiça acéfala

Sobre uma luz que mais ofusca
Do que se espera ensinar
Retardando os inocentes desta terra
Talhando a cada dia o Sr. Pensar.

Conforme mandam as leis da natureza
Numa cena de Esteiros
Cosendo ou costurando
Costurando ou cosendo
Tanto faz a feitura

Será sempre a mesma sinfonia
Trabalhando em linha reta
Ainda esbanjando alegria
Nessa máquina: fantasia.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

PANAPANÁ

Sei que o teu olhar condensa
Infinita beleza, tão assim...
Sem nome, nem porquês
Reboliço por dentro que destrói
Devassa qualquer fio de pensamento
Que não seja por ti... álibi.

És um Crime!
Sonhar-te a carne desnuda
É a súplica dos meus dias
E quando a noite vem...
Receio ter coragem pra pedir licença
E entrar em ti... nua de mim.

Quero sem medo
Roubar-te a capacidade
De prender-me sem esforço
À memória de teu corpo...
Crente que estais sempre
Na frete, por trás e aos lados... logo ali.


Mas sei também que a dor é nula
Como os conchavos perdidos
Resquícios sem medida
De ousadas manhãs fugidas...
Que ainda formam em meu avesso

Imensa nuvem de panapaná... por fim.  

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O negro e os buracos

 Fui concebido por um buraco
Por um buraco vim ao mundo
Num buraco, foi onde vivi

Primeira cena:
Junto aos ratos...

Em buracos me meti
Crescendo solto na buraqueira
Locus amuenus é meu buraco!

Segunda cena:
Junto as vespas apocritas...

De buraco em buraco
Rompem-se as ruas pelas beiras
Que há em mim esburacada

Terceira cena:
Junto aos gatos...

Me jogaram num buraco
Com tantos outros soterrados
Buracos, de aço, quadrados

Quarta cena:
Junto aos tigres...

Aprendiz de buraco
Lacunado de minha Génesis
Meu estômago é buraco

Quinta cena:
Jantando alguns cães...

De latidos fidalgos
Desconhecidos da buracaria 
Em minha cara com o Ferro faz buraco

Sexta cena:
Longe dos homens...

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O encontro



     Coincidentemente ou não, esta manhã (13 de outubro de 2015) acabei me deparando, sem perceber ao certo de quem se tratava, com uma figura muito importante segundo os homens. Tratava-se, era mesmo, do próprio Bandeira. Não notei de imediato que era ele ali, só vim dar conta do fato quando ele mesmo pronunciou: Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho, muito prazer! Logo após lhe perguntar a hora. Trocamos inúmeras ideias, acabei que o perseguindo em sua caminhada matinal, ele me falou do quanto era chato, hoje, todo o Antigo Recife, me falou das músicas, me perguntou: sobre o sentido dos semáforos, dos prédios tão altos e com caixas enfileiras todas iguais? Comentou que achava interessante os camelôs... Por um momento, de tanto falarmos um com o outro, sentimos ao mesmo tempo monstruosa sede, com explicação. Foi quando ele (e sua sabedoria de ancião, de quem conhecia como a palma das mãos cada beco, cada rua) disse: vamos até o Mercado Boa Vista. De início fiquei surpreso com o convite, ou mesmo assustado eu diria. Até segunda ordem ele era um estranho pra mim, e aí digo: literalmente estranho. Mesmo assim, não tive como recusar, afinal era Bandeira que estava me chamando, fiquei sem jeito de dizer não. Fomos andando mesmo (ele não tinha Vem, nem eu, e igual a mim se recusava a pagar, a passagem absurdamente cara, inteira), (outra coisa que ele também não entendeu: os ônibus e o BRT), havíamos nos encontrado na Rua da Ventura (atual Joaquim Nabuco – como assim ele me esclareceu depois), pelo caminho ele me contava fatos irrelevantes na vida de um homem cuja identidade é tão importante, como o caso de uma briga de moleque que teria pego com um tal de Valentin, afilhado de um tio avô dele, e que estudavam no mesmo colégio das irmãs Barros Barreto, na Rua da Soledade. A cada rua antiga surgia uma conversa nova... era um tal de: tá vendo aquele prédio ali?! Era um morrinho onde subíamos pra soltar papagaio; tá vendo aquela praça ali?! Tinha um lago onde pescávamos quase o dia inteiro; tá vendo aquela esquina ali?! Não existia nada nesse lugar... e assim até chegarmos ao Mercado, sentarmos e tomarmos uma cerveja. Depois de alguns minutos ele olhou para mim e educadamente disse que precisava ir, que na realidade já passava de sua hora. Sem o interromper dos horários concordei e falei apenas: Tchau poeta!
De supetão, ele voltou os olhos novamente para mim e disse:

Não julgo ser poeta!
Talvez apenas, seja eu, um colhedor de palavras
Sim,...
Porque eu simplesmente as colho

Não os frutos dessa poemeira
Mas sim... as folhas em branco que balançam
E que de manchadas


Botam poemas. 


Foi aí que percebi, que o nosso encontro era já a poesia

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Não sou... nem negro nem branco
Sou uma cor esquecida
De vermelho amarronzado

Onde o negro foi cavalo
E o branco
Chefe da cavalaria

Eu fui além de escravo
Roubado e massacrado
Dentro das próprias terras que eram minhas

Quando ainda achado pouco
Me cortaram as pernas
Os braços e corpo, sobretudo a língua

Foi-se junto com ela a esperança
Que nunca veio nem nunca esteve aqui
Mais uma invenção alva: A Esperança

deveria ser branca e não verde
Da pouca mata que se mata
Cada dia um pouco mais

Das árvores, comeram mais que cupim
Das águas, sujaram mais do que latrina
Das feridas só sobraram as feras

Virei ridiculamente uma peça animada
Nos livros de história
Com data pra comemorar

Artigo tantas vezes folclórico
Quase como um peso a ter que se carregar
Na imensidão das raças anuladas

Sim... talvez haja tantas outras tribos por aí...

De ganho só me restou mesmo o apagamento
Lento... Disfarçado de preocupações
Com a raiz de “minha” alma

Nos meus irmãos atearam fogo
E subtraíram silenciosamente a alegria
De se viver em natureza crua

TIRARAM-ME OS HÁBITOS...!

De gente que corre descalço
E com a pele toda à vista
Sob um sol de verdades ditas

O meu nome é um engano
Em real sou um filho dessa terra
Que pensavam os homens ser a índia

Muito prazer o meu nome é:

Indígena. 

16/10/2015


Como num grito de revolta
Ela se choca...
Na parede de mágoas que ali se forma
Sobre a forma de outra coisa entendida
De libra
Simplesmente desequilibra
Na balança da superfície dividida.