["Non... Rien de rien.../Non... Je ne regrette rien/C'est payé,/balayé, oublié,/Je m'en fous du passé!"]

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

a Vanessa Macedo
















A paisagem de minha janela é um prédio
O concreto que vejo reflete o abstrato em mim
A parte a dentro é todo um quarto

Amarração das minhas fugíeis ideias nulas
Conspirando contra o deserto lar
Os antigos frascos de perfume amargo

De vidro quebrado
De volta pro aço

Em uma constante estripulia revolta
Em volta do mesmo plástico abafado
Ver as narinas clamarem por ser

Aquilo que antes não haveria de morrer
Sob a malha fina e discreta
A [pai]sagem do meu quarto


Há mais concreto dentro dele!  
Vou embargar a tristeza
E devolver o esteio do meu corpo
Ao lume morno
A medida exata para
O confuso torso de três hastes
Quase que nem uma planta
Enraizar, entre águasolar

E renascer das cinzas ave perdida 

Espasmo













Melancolia
                De Vinícius até Ellis
Lars Von Trier

Entra pelos tímpanos
A derramar sob-hálitos corrosivos
Fluídos tons...
Pupilos, então, de qualquer mal dizer
À revelia do caos que perpassa
Filmicamente o estado do pesar

Sons e imagens agora são um
Uniformemente 1
[...]
Há proximidade demais
Entre os corpos e qualquer metafísica
Derramada assim
Sensível calda fina que envolve

A sufocar...
O meu canto é de grito
De torpor
Modesta hipnose que de súbito arado
Fez-me trabalhar anti seu embalo
Coisa feita sem plano

Serve ao contrário pra acordar 

Bicho de sete cabeças

A primeira,
Ainda tonta do que houvera

A segunda,
Erguida a puro sentido vago

A terceira,
A legos de onde estou

A quarta,
Sob um olhar de profuso condensar

A quinta,
Suavemente encosta tchã

 A sexta,
Desfigura ao amanhecer sem razão

A sétima,

Harmoniza todas e Corta fria a insensatez do pensar

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Hoje

Depois de flor crescida
Volto às ramas de minha terra
Do alto dum cajueiro
Tenho sobre as mãos duas montanhas de rocha
Que de tão longe o horizonte
Mais perto os sentidos ficam
E pulo para meninice tão rápida
 Quanto uma lavandeira caçando minhocas

Escuto suave nos arquivos de minha memória
A voz sempre roca de minha Mãe
 — Niiiiiiiina, Niiiiiiina...
Acompanhada do ritmo singular
Entre uma batida e outra de martelo na chapa
E o som de fogo do maçarico de meu Pai
Por trabalhar debaixo do sol como soldador 
Sem grandes preocupações com o porvir

O chão riscado em duas formas retangulares
Era um enorme barco que se tinha pra desbravar
Os peixes eram folhas secas da mangueira
Que caiam fora dos limites do barco
Onde bravamente com uma lança
 A folha furando ao meio tinha a pesca
De surpresa os peixes depois de assados
Eram as próprias mangas em talhadas pra chupar

Um pneu deitado rapidinho era levado
A pensar numa nave espacial
Dentro: eu mesma
Como única tripulante
Por alguns minutos no sistema solar
Via os outros plantas nas casas vizinhas
E em terras “estranhas” corria atrás
Das minhas galinhas alienígenas

Lá em casa a brincadeira começava antes
Da brincadeira começar...
Era lá no comecinho com a confecção
Dos meus próprios carrinhos
Que era mais gostoso brincar
Simplesmente com uma garrafa de refrigerante cheia de terra
Um arame de solda e barbante pra sair puxando
Daí saia carro, carreta, charrete, o que desse pra ir imaginando  


 Foi assim dia após dia
As árvores eram grandes amigos em festas
Se de tronco deitado
Era cavalo brabo que depois se fazia manso
Os vidros de carros da oficina velha
Eram diamantes preciosos
Que até briga séria dava
Se alguém pensasse em me tomar

Já hoje...


Aniilismo

A fome do olhar se nega a sair
Transpiração sólida desse catar... sabe lá o quê
De fibra, ponta aguda!
Debruça sobre a figura perdida do Querer


[A genealogia da desordem vai mais além do que dizem


sexta-feira, 7 de março de 2014

Casulos

O frio concreto cospe os pelos
Da epiderme dormida

Há sempre o que dizer...
Em meu calar

Loucuras que fogem de outras loucuras
Numa célebre festa de ébrios 
A perceber os sentidos de novas casas
Moradas perdidas! 

Vejo casulos...
Entre duas placas e uma seta:

“siga em frente”
“rua do futuro”

Com borboletas a passear!

Definição do Amor

O amor é uma cor
De rubra flor
Que nasce no fundo
Do estomago
Com borboletas

A voar em seu redor