["Non... Rien de rien.../Non... Je ne regrette rien/C'est payé,/balayé, oublié,/Je m'en fous du passé!"]

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O encontro



     Coincidentemente ou não, esta manhã (13 de outubro de 2015) acabei me deparando, sem perceber ao certo de quem se tratava, com uma figura muito importante segundo os homens. Tratava-se, era mesmo, do próprio Bandeira. Não notei de imediato que era ele ali, só vim dar conta do fato quando ele mesmo pronunciou: Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho, muito prazer! Logo após lhe perguntar a hora. Trocamos inúmeras ideias, acabei que o perseguindo em sua caminhada matinal, ele me falou do quanto era chato, hoje, todo o Antigo Recife, me falou das músicas, me perguntou: sobre o sentido dos semáforos, dos prédios tão altos e com caixas enfileiras todas iguais? Comentou que achava interessante os camelôs... Por um momento, de tanto falarmos um com o outro, sentimos ao mesmo tempo monstruosa sede, com explicação. Foi quando ele (e sua sabedoria de ancião, de quem conhecia como a palma das mãos cada beco, cada rua) disse: vamos até o Mercado Boa Vista. De início fiquei surpreso com o convite, ou mesmo assustado eu diria. Até segunda ordem ele era um estranho pra mim, e aí digo: literalmente estranho. Mesmo assim, não tive como recusar, afinal era Bandeira que estava me chamando, fiquei sem jeito de dizer não. Fomos andando mesmo (ele não tinha Vem, nem eu, e igual a mim se recusava a pagar, a passagem absurdamente cara, inteira), (outra coisa que ele também não entendeu: os ônibus e o BRT), havíamos nos encontrado na Rua da Ventura (atual Joaquim Nabuco – como assim ele me esclareceu depois), pelo caminho ele me contava fatos irrelevantes na vida de um homem cuja identidade é tão importante, como o caso de uma briga de moleque que teria pego com um tal de Valentin, afilhado de um tio avô dele, e que estudavam no mesmo colégio das irmãs Barros Barreto, na Rua da Soledade. A cada rua antiga surgia uma conversa nova... era um tal de: tá vendo aquele prédio ali?! Era um morrinho onde subíamos pra soltar papagaio; tá vendo aquela praça ali?! Tinha um lago onde pescávamos quase o dia inteiro; tá vendo aquela esquina ali?! Não existia nada nesse lugar... e assim até chegarmos ao Mercado, sentarmos e tomarmos uma cerveja. Depois de alguns minutos ele olhou para mim e educadamente disse que precisava ir, que na realidade já passava de sua hora. Sem o interromper dos horários concordei e falei apenas: Tchau poeta!
De supetão, ele voltou os olhos novamente para mim e disse:

Não julgo ser poeta!
Talvez apenas, seja eu, um colhedor de palavras
Sim,...
Porque eu simplesmente as colho

Não os frutos dessa poemeira
Mas sim... as folhas em branco que balançam
E que de manchadas


Botam poemas. 


Foi aí que percebi, que o nosso encontro era já a poesia

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